quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A queda e a queda de um repórter

Regra número 1 do jornalismo: quando a história é muito boa, parece mentira.

Em 2001, Michael Finkel foi mandado pela revista dominical do jornal The New York Times para investigar denúncias de escravidão infantil nas fazendas de cacau da Costa do Marfim. Nas palavras do então repórter jovem, ambicioso e com carreira em ascensão, "para um jornalista, ser escolhido para uma pauta dessas é como ganhar na loteria".

Ele foi, viu e voltou. Não havia escravidão, disse a seus editores, mas uma situação de penúria tal que valia uma reportagem de capa. OK, disseram os chefes, desde que ele pudesse centrar todo o horror que vira em apenas um personagem. Existia alguém assim? Sim, respondeu Finkel, o menino Youssouf Malé, 15 anos, que havia "se vendido" para os donos da fazenda em troca de comida e abrigo.

No domingo de 8 de novembro de 2001, a revista dominical saiu com a manchete "Youssouf Malé É um Escravo?"

A comoção foi tanta que entidades de direitos humanos foram atrás do menino para "libertá-lo".
Descobriram que Youssou Malé nunca existiu.Era uma composição de diversos personagens, nenhum deles "escravos". O repórter foi demitido, e o Times colocou outro jornalista para apurar os fatos e escrever uma reportagem-retratação. Michael Finkel foi assim um pré-Jason Blair, que ganharia fama por colocar à prova a credibilidade do jornal mais importante do mundo ao inventar dezenas de reportagens.

Aí, a vida lhe deu uma segunda chance.

Extraído do livro de Michael Finkel, "a história verdadeira, assassinatos, memórias, mea culpa."

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