sexta-feira, 12 de março de 2010

O Colocador de Pronomes

A história é um dos contos do livro “Negrinha”, publicado em 1920. Monteiro Lobato utiliza muito da linguagem culta, sendo até radical em relação à maneira de escrever. Ele usa verdadeiras preciosidades no tratamento do idioma.

“O colocador de pronomes” conta à história de Aldrovando Cantagalo, um rapaz que veio ao mundo em virtude dum erro de gramática. Pois bem, seu pai, um pobre escrevente se apaixonou por Laurinha, uma das duas filhas do coronel Triburtino. A outra, era Do Carmo.

Certa vez, o pai de Cantagalo escrevera uma carta para Laurinha, com os seguintes dizeres: “Anjo adorado! Amo-lhe!”. O coronel pegara a carta, e sem exitar, mandou chamar o escrevente. Diante do pai de Do Carmo e de Laurinha, o escrevente se encontrou em uma posição não muito agradável. Mas o coronel concordou com casamento, mandou chamar Do Carmo para se encontrar com o seu noivo. O escrevente desesperadamente e cheio de coragem falou: “Laurinha, quer dizer o coronel...”. O velho sem pensar duas vezes respondeu: “Se amasse Laurinha, deveria ter dito amo-te, como você disse amo-lhe, declara que ama a uma terceira pessoa, não acha?”. Daí então, podemos entender porque Aldrovando, filho do escrevente, veio ao mundo em virtude dum erro de gramática.

Para não cometer o mesmo erro que seu pai, Aldrovando se tornara professor, dando total atenção à colocação dos pronomes. Talvez, sua obsessão pela escrita correta fosse tão grande e possessiva, que ele queria que todos se expressassem formalmente. Quem poderia negar também, que porventura, ele não queria acabar com o monstro da corrupção? Até mesmo chegou a pedir ajuda para os políticos, onde ele reivindicava uma lei que “defendesse o idioma”, os tais políticos, cheios de corrupção, negaram-lhe ajuda.

Aldrovando queria mudar o mundo, começando pelo Brasil, pela gramática e pela corrupção. Mas o mundo já estava perdido – principalmente o Brasil - os homens eram teimosos, não havia como desviá-los do mau caminho. Mas como todo bom brasileiro não desiste nunca, Aldrovando resolveu escrever um livro, ensinando a colocação certa dos pronomes, o ponto fraco do brasileiro falar estaria resolvido de uma vez. Mas, todos os editores negaram-lhe ajuda, ele não se importou e às próprias custas resolveu imprimi-lo.Assim o fez, mas, ao escrever dedicatórias destinadas à crítica, ele se deparou com um erro horripilante: “daquele QUE SABE-ME as dores”. Aldrovando não admitiu o seu próprio erro, não agüentou tal pressão psicológica e assim como veio ao mundo, em virtude dum erro de gramática, chegou a falecer.

Será que para mudar o mundo, nós deveríamos levar tudo ao pé da letra? Claro, que ao menos poderíamos dar o melhor de si. Mas tirando o problema da corrupção, da falta de escolaridade, da falta de comunicação, tirando os problemas das grandes cidades – que por sinal não são muitos – no fundo, o Brasil não está tão ruim assim. Afinal, vivemos no país do carnaval.

Nenhum comentário:

Postar um comentário